quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sombra e Luz No Desenho Artístico

                       Existem características básicas de reconhecimento do ambiente pelo córtex cerebral visual que podem ser resumidas como: forma, cor e movimento. Da forma se tratam os contornos que distinguem os objetos e suas partes, e  a sombra-luz. A relação sombra-luz fornece a informação de posição relativa entre os corpos do ambiente, volumes e textura. Neste tutorial será abordado os elementos das sombras e a relação desta com a luz.








                    Sombra própria - é definida como a sombra de um objeto e que reside nele mesmo. Esta sombra determina a textura do objeto e sua forma. Veja que um contorno nos dá uma vaga noção de que objeto se trata, mas não o define. Vários objetos poderiam ser desenhados sobre o mesmo contorno.












             Contudo, a sombra própria revela o volume que existe no contorno, detalhes de sua superfície - ex.: se ela é rugosa ou polida - e nuâncias. No desenho ao lado, percebe-se que existe uma depressão na superfície do corpo denunciada pela sombra que o objeto tem em si mesmo. Alguns detalhes de superfície não podem ser feitos por linhas ou contornos, apenas por sombras.











            A textura indica de que o material é feito, se sua superfície é polida ou não e, assim como a sombra própria, pode indicar a forma do objeto. As linhas que cercam o corpo do desenho à esquerda indicam uma forma esferóide; ao passo que, na figura abaixo dela, as linhas da textura sugerem ser um corpo plano.





             
         Sombra projetada - É a projeção do bloqueio à luz que um objeto cria sobre outro. Ao contrário do que se pode imaginar, a sombra projetada não depende somente da forma do objeto que emita, mas também daquele que recebe. Essa sombra resulta da interação das formas dos dois objetos e da posição relativa deles entre si e entre a luz. Mas o que isso quer dizer mesmo?

           A figura à direita exemplifica bem. O bastão projeta uma sombra no chão. Contudo, sua sombra não é um retângulo perfeito que se obtém da projeção cartesiana de um cilindro. A sombra tem um formato em que seu início é menor e mais definido que seu fim. Sua forma é irregular e evidencia não apenas a forma do bastão, mas do plano também. o chão tem uma elevação ondular que foi marcada pela sombra projetada. Quando for postado sobre como desenhar objetos translúcidos, como vidro e a água, mostrarei como a sombra desses objetos são diferentes dos objetos opacos.



                       Sombra reflexa - Esse termo para sombra é uma definição minha, eu o uso para fazer referência à sombra que resta após a luz refletida tocar o objetos. Cunhei este termo por ser uma sombra muito importante, quase sempre presente, mas que é negligenciada pelo hemisfério esquerdo cerebral e por isso não é tomado consciência de que ela existe. Contudo, a perfeição e a beleza da sombra apenas se faz após a percepção e desenho dela. O observador menos treinado reconhecerá com o hemisfério direito cerebral a beleza e realismo das sobras reflexas desenhadas, mas não explicará exatamente o por quê.  A figura à esquerda exemplifica a sombra que fica após o reflexo de luz que vem do chão iluminar a base da esfera.




                      O desenho abaixo mostra parte de um nariz. veja que quase não há aresta e que o nariz nasce do papel a partir do jogo sombra-luz. A luz direta cria a sombra própria e projetada do nariz; e a indireta, ou refletida, cria a sombra reflexa. A luz pode ser refletida inúmeras vezes, veja quantas mudanças na percepção da sombra cada reflexão causa. Eu costumo desenhar até a segunda reflexão e acredito ser suficiente. Veja abaixo um desenho que descreve a importância da sombra no desenho. Veja que o rosto do nasce branco, quase sem limites definíveis, quase sem contornos, somente sombra-luz.



            Agora o leitor sabe sobre sombras, em outra oportunidade escreverei sobre a luz. E se leu a postagem Gradientes em desenho  fez uma maçã, agora é hora de aprimorar sua maçã. Use o conhecimento de gradiente para dar às sombras própria, projetada e reflexa o ambiente luminoso desenhado abaixo. Não se desaponte o leitor se seu desenho não coresponder às suas aspirações, veja o quanto ele melhorou com o uso dessas duas técnicas e o quanto você pode treiná-las e desenhar ainda melhor. Garanto que com a aplicação de cada dica, cada tutorial melhorará. Desenhar é um dom dado a todos, lapidado por alguns. O leitor está aqui para lapidar o seu. Veja o mesmo desenho abaixo da maçã, perceba como agora você reconhece os elementos da sombra nele.










Gradiente em Desenho

Objetivo: ensinar a criar gradientes e explicar o seu uso no desenho à grafite.

        O desenho à grafite é marcadamente caracterizado pelo gradiente e seus diversos tons de cinza. será fundamental que o leitor treine esses gradientes que ofereceram grande qualidade ao seus desenhos. Eu usei  o lápis 6B e outros para o desenho a seguir.

           Então, como fazer o gradiente:

  1. Seu objetivo é ir da cor maus escura a mais clara, fazendo uma transição uniforme, sem linhas ou marcas.
  2. A densidade da cor depende da quantidade de grafite desprendido para uma determinada área do papel e da cor do grafite usado no lápis. Assim, para um gradiente mais escuro, passe o lápis levemente várias vezes no mesmo lugar.
  3. É prudente iniciar pressionando o lápis com a maior leveza possível, passando várias vezes no mesmo ligar para se conseguir o tom escuro. Não aconselho, no início, pressionar o lápis com força para apressar a saída do grafite para o papel e se conseguir o tom escuro mais depressa por que desta forma marcará o papel e a transição não será uniforme.
  4. O limite do quão escuro será o tom é dado pelo lápis, não será possível ultrapassá-lo simplesmente com força sobre o lápis, se quiser mais escuto terá que usar outro lápis.
Comumente é usado o dedo, algodão ou esfuminho para uniformizar a cor. Esse é um excelente recurso. Quando se usa essa técnica simplesmente está preenchendo com grafite os poros do papel que o lápis não alcançou. Naturalmente, por espalhar o grafite, o tom se torna um pouco pais claro.


Vamos então ao nosso primeiro desenho usando gradientes. Faremos uma maçã, o leitor pode usar uma foto de uma maçã como base, escolha uma imagem que a sombra e a luz se destaque:



Faça contornos leves delimitando o objeto, trace suas sombras também, não se preocupe demasiadamente em acertar a forma da maçã do exemplo pois isso será treinado depois. Não se preocupe com as imprecisões dos traçados, não tente fazer uma linha firme, nem uma elipse, ou esfera ou outra forma regular. O objeto não tem essa forma perfeitamente regular, veja que existem nuâncias e em alguns pontos não se precisa nem fazer a linha. Uma linha completada automaticamente pela mente do observador quando seu cérebro perceber de que objeto/forma se trata e uma vez que a mente usa uma projeção dela, como foi dito antes, o observador se identifica com a imagem como realística.





Depois, levemente trace um tom claro e uniforme, indicando as sombras do objeto. Esse traçado norteia o artista, lembre-se que será feita uma explanação detalhada sobre sombras na próxima postagem.









Agora analise cuidadosamente os gradientes das sombras do objeto, de onde para onde as sombras se tornam claras e escuras. Neste exemplo, veja que na maçã, após uma faixa mais clara, um tom escuro se inicia e some à medida que sobe circularmente o objeto










Faça os mesmos passos acima para o desenho do galho e da folha. Bem, nosso tutorial sobre gradientes forma o desenho acima. Em outra oportunidade escreverei sobre como mimetizar texturas e outras técnicas que completam o desenho como visto abaixo.











Não se frustre o leitor se a maçã não se parecer com o modelo que escolheu, ou com a que eu fiz. Lembre-se que gradiente foi o primeiro passo que ensinei e que passo a passo seu desenho será mais apurado. Agora passemos ao tutorial sobre sombras, estudaremos a sombra desta maçã - Desta mesmo que o leitor já desenhou.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Desenho (Introdução)

Essa postagem tem por objetivo iniciar, incentivar ou instruir iniciantes em desenho, bem como comentar sobre idéias mais avançadas a respeito de ilusionismo, mentalização, projeção e outras formas de interação criador-desenho-espectador que fazem com que a arte seja mais subjetiva ao espectador do que ao próprio artista. Sendo esta postagem uma introdução geral, os temas aqui discutidos serão abordados profundamente em outros tópicos.



ILUSÃO - o artista é antes de tudo um ilisionista. Nesse desenho, não existe um cabelo delineado, tão pouco um pano. Em tamanho real, perceberá o observador que aquilo visto como um pano sobre o corpo em verdade são linhas soltas e descontínuas. Mas então por que nossa mente diz ser um pano?

PROJEÇÃO- a mente busca padrões para categorizar as imagens. É essa habilidade que faz com que nós leiamos os testos anti-span (que são letras descontínuas em meio a desenhos bizarros). Mas por que não seria melhor desenhar realmente? Simplesmente por que a projeção feita pela mente do espectador dá-lhe a sensação de realidade. A mente não completa pobremente, ela erriquece a imagem de tal forma que quando se olha o desenho, a mente projeta o padrão de imagems pre-concebidas o espectador se identifica com a imagem. Essa identificação é importante e faz com que o observador sinta afinidade com a beleza que vê - pois não se trata de outra coisa senão de sua pŕopria imageinação refletida no papel. Então, o observador usa imagens internas para reconhecer o desenho (pessoa, carro, flor, ETC.), o desenho deve permitir essa projeção sugerindo imagens por meio de traços e sombras e perspectivas e toda sorte de técnicas. Dessa forma, a obra causará sentimentos em quem a vê, e este acreditará ser a obra de grande realismo.


ANATOMIA- quando se trata de qualquer desenho, deve-ve conhecer a fundo as formas reais do objeto. Salvo olhos não treinados, não somos capazes de distinguir duas abelhas de uma mesma espécie, mesmo olhando por minuto; ao passo que um olhar de segundos já é necessário para o reconhecimento de uma face humana. Isso deriva da nossa necessidade em nos reconhecer em sociedade e foi um benefício evolutivo. O que tem isso com desenho mesmo? simplesmente tudo: aquele que se propor a desenhar a forma humana está antes sobre olhos especialistas que quando desenhe qualquer outro ser. Embora em seus detalhes, os homens são distintos, existe uma proporção obedecida pra cada parte do corpo (que será ensinada em outro momento). O hemisfério esquerdo cerebral é especialista em reconhecer estas proporções humanas e é capaz de, com perfeição, identificar um erro. Uma vez que o hemisfério cerebral esquerdo é dominante para fala - na maioria das pessoas - um observador pode "sentir" que tem algo errado, mas não consegue dizer, nominar o erro, dirá então: "não sei bem o que, mas está estranho. Talvez...". Felizmente, essas proporções já estão bem determinadas e eu as descreverei em outro momento . Assim a anatomia foi e é estudade por grades pintores e desenhistas e não deve, a princípio ser ignorada.

A FÍSICA DA LUZ -
A a segunda grande ilusão de um desenho é olhar uma superfície plana (as duas dimensões do papel -2D) e sentir profundidade (uma representação 3D). Essa noção de espaço tridimensional que se pode dar ao desenho é marcadamente feita por três características: jogo sombra-luz, perspectiva e projeção. A perspectiva será ensinada em outro desenho (A projeção foi explicada acima). O jogo sombra-luz é simplesmente conhecer como se comporta a luz em sua reflexão, luminosidade e refração.










Observem o exemplo deste nariz, há nele a luz direta (luminosidade) e a luz refletida ( que é a quela que emana das superfícies iluminadas). Em verdade, é a sobra que denuncia a textura e forma dos objetos. A sensação de volume pode ser dada pela forma desenhada, mas vagamente, ela será concisa somente após o desenho das sombras. É tão importante para o desenho que farei um tópico à parte somente para sombra.













Por fim a luz refratada. Uma vez translúcido, um objeto desviará os raios de luz de acordo com sua forma, cor e densidade. É pelo domínio dessa propriedade no desenho, que o observador identificará o material desenhado como translúcido, à exemplo do vidro, da córnea (aguarde um tópico sobre esse tema).



PERSPECTIVA-


A perspectiva a princípio foi muito bem estudada pelos gregos. Criou-se o conceito de ponto de fuga (PF) que é o ponto para onde todas as linhas convergem (ver a figura - clique para ver maior) - Embora às vezes pareça necessário, não use régua, não vemos o mundo tão ortogonal quanto muitos pensam.
O ponto de fuga é dependente do observador e ele é o que faz um barco sumir ao orizonte ou uma construção alta parecer curva quando olhada de sua base. Quanto maior o objeto em relação à lente do observador (seja câmera ou mesmo os olhos) maiores serão as deformações provocadas pela perspectiva.
É importante frisar o quanto o ponto de fuga depende do observador. Olhado ao longo de uma estrada, um observado sentado ao se levantar verá todos os objetos moverem-se de forma a se ajustar a um novo ponto de fuga, a uma nova perspectiva.
Mas como determinar onde por o ponto de fuga? Essa é a maior pergunta. Um dos pontos estará no horizonte, que é onde todas as dimensões são pontuais e ,por tanto, para onde todas as dimensões convergem. Falta apenas determinar em que ponto do horizonte. Siga a seguinte orientação:
1- Escolha o maior objeto do desenho e que mais se repita em direção ao fundo, pode ser uma árvore que se repete ao longo de um caminho, ou pessoas - isso fica a escolha. tome ainda como padrão o que estiver mais próximo do observador, ele será a referência (ex.: no desenho acima a maior coluna foi minha referência e ela vale 1C - C de coluna ).







2-Agora escolha uma segundo objeto do mesmo tipo, que esteja em um plano mais profundo e um pouco distante do primeiro.









3- Imagine a que distância o segundo está do observador em relação ao primeiro (ex.: no desenho, a 4º coluna da esquerda está ao dobro da distância do observador em relação a maior coluna - a que foi tomada primeiro como padrão).
4- Desenhe o segundo objeto escolhido e trace (mentalmente ou não) uma linha que toque o horizonte e a parte superior dos dois objetos escolhidos e outra linha que toque a parte inferior deles e o horizonte. O ponto de encontro entre as duas retas é o ponto de fuga. Aconselho que um deles toque o horizonte.




5- Faça os mesmos passos para determinar outros pontos de fuga. O artista pode construir quantos pontos de fuga julgue ser necessário ( ex.: um para a profundidade à esquerda dos objetos , outro para os à direita e ainda mais um para para a altura dos objetos).

obs: Não use régua!!! Faz parte do seu aprendiza
do como artista desenhar linhas retas e a imprecisão do seu traço, por mais que mínima, dá qualidade ao seu desenho - embora pareça contraditório, é a imprecisão que torna o traço artístico 'à mão livre' tão expressivo e esse ponto será o próximo a ser discutido.



IMPERFEIÇÃO - a realidade reside em representar a imperfeição perfeitamente

A imperfeição das formas é o que aproxima uma arte da realidade. É difício fazer um desenho de precisas linhas e contornos, nem deve ser esse o objetivo. Para entender o por quê vou descrever a psicologia das formas e, não obstante falar de um tema agradável como exemplo.

Visualmente a mente tenta entender as formas dos objetos partindo de formas perfeitas como triângulos, quadrados, círculos, que apesar de serem várias estão em número limitado. Se por um momento, nossos olhos verem algo cuja forma não pode ser comparada com os padrões temos a sensação de caos. Assim, o caos é aquilo cujo padrão não é compreendido. Partindo disso (das formas padrões) podemos classificar objetos diferentes em categorias (telefones, carros , cavalos, etc) mesmo que as diferenças entre os objetos estejam em mais número que as semelhanças. Era disso que o Sócrates falava quando dizia que esse mundo é apenas a projeção imperfeita da realidade e , sobre o mesmo assunto, escreveu Platão no Mito da Caverna.
Ao desenharmos, primeiro tentamos entender as formas segundo o padrão e depois tentamos mimetiza-las no papel. Por isso, cada desenho é a reprodução de como vemos e de como compreendemos a imagem. Nesse processo deve-se dar especial atenção às irregularidades. É por exemplo ideal desenhar uma mulher de curvas perfeitas e pele lisa, impecavelmente harmoniosa em sua perfeição, mas não é real. Para aqueles que buscam a realidade em suas representações artísticas a assimetria e a porosidade da pele, as nuâncias ósseas faz com que aquilo que se desenhe esteja mais próximo do que é visto (esse vai ser o tema agradável).
Saindo de um padrão grego de beleza feminina, em que a mulher deveria ser grande e um tanto forte para ser bela, entramos na era da super magreza feminina - e aqui vai um desabafo - o fato é que ninguém pagaria para engordar, por que é fácil, logo é preciso fazer as pessoas desejarem a magreza (ou seja, vender dor e auto decepção ) para que elas paguem por algum produto, academia ou serviço. Sé é difícil para as mulheres se manterem magras, é tanto quanto para os homens se manterem fortes, logo vendem a imagem de um deus Apolo como ideal de beleza - e pelo mesmo motivo - vende-se a auto decepção para os homens paguem pela ilusão de serem fortes. Feito o desabafo, o fato é que isso se reflete no modo como tentamos fazer arte. Não deve o artista vender também essa imagem, isso torna o seu desenho um tanto distante demais da realidade e daquilo que ele está vendo e tentando representar.
Veja o meu desenho que pus como exemplo. São duas moças absolutamente normais. O tecido se comporta anarquicamente e gera uma assimetria que vai contra o padrão de beleza. Os glúteos não tem aquela forma semi-esférica e tônica, nem desse tonus se fazem os seios. O que há é movimento, realidade. Isso não apenas dá uma realidade orgânica ao desenho como educa os ólhos das pessoas a admirarem belezas mais palpáveis. A arte que representa a beleza caquética cria uma admiração perigosa e geradora de muitas depressões, frustrações, impotências, automutilação e toda sorte de sofrimento decorrente de um desenho inalcasável. Conscientize-se de seu papel artista, aquele que interage diretamente com a imaginação e desejos doutros. Por fim, lembre-se, a realidade reside em representar a imperfeição perfeitamente.

CONCLUSÃO- foram abordados de forma superficial os temas acima. Postarei detalhadamente esses temas.